«Mães coragem … e o vazio das crianças que não puderam ser felizes». Fotografia de Francisco Pedro - Exposição temporária
No próximo dia 27 de outubro,
abrirá ao público no Consolata Museu | Arte Sacra e Etnologia a exposição temporária de fotografia “Mães coragem … e o vazio das
crianças que não puderam ser felizes”.
Os vinte e quatro trabalhos do
jornalista Francisco Pedro são resultado da viagem que realizou em 2014 à
Guiné- Bissau onde, em Bissau, conheceu a Casa Bambaran, um centro de acolhimento
de crianças órfãs, portadoras de deficiência e rejeitadas pelo estigma das
tradições. Basta nascerem gémeas, terem alguma deficiência, serem feias de mais
para o gosto dos pais para serem eliminadas. São rotuladas de crianças Irã, ou
crianças feiticeiras.
No entanto, existem “mães
coragem” que desafiaram e venceram as crenças sobrenaturais, aceitando os seus
filhos nas suas diferenças. São essas que o fotógrafo pretende homenagear, bem
como o trabalho desenvolvido pelas Missionárias da Consolata.
A exposição poderá ser vista até
3 de janeiro de 2016 de terça a domingo das 10h00 às 19h00 em outubro e de
novembro a janeiro das 10h00 às 17h00.
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Mães coragem … e o vazio das
crianças que não puderam ser felizes.
Os dias de Dona Djasse começam às
cinco da manhã, sete dias por semana, quatro semanas por mês, 12 meses por ano.
Na região onde vive, (Empada, Guiné Bissau) a água fica à distância do destino,
o centro nutricional obriga a quatro horas de caminhada, duas para cada lado.
Dona, 33 anos, tem três pares de gémeos. Seis filhos, portanto. Os mais novos terão agora dois anos, os mais velhos andam pelos 10. Mas lá em casa, são, ao todo, 14 pessoas - ela, o marido, os seis filhos do casal e mais seis que vieram com o companheiro, por morte da mãe.
Se seguisse à letra as crenças
populares, alimentadas por tradições tribais, podia até ter “eliminado” alguns
dos gémeos, abandonando-os à beira rio ou colocando-os nos ninhos das térmitas.
Não seria penalizada por isso, porque as autoridades guineenses vão fechando os
olhos ao assunto e o ritual é facilmente aceite por grande parte da comunidade.
Mas Dona não o fez. É uma das muitas mães coragem que existem na Guiné Bissau.
Uma das muitas mulheres que ensinam os seus filhos a sorrir.
Outras, não tiveram tanta bravura
e deixaram um vazio. Um vazio que devia ser sentido por toda a humanidade. Um
vazio de felicidade, um vazio de vida, que nos devia envergonhar. É isso mesmo
que estais a pensar. Na Guiné Bissau ainda se sacrificam crianças por serem diferentes.
Francisco Pedro
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